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terça-feira, setembro 30, 2003

SERGIO FARACO. Mais uma vez, gostaria de saber porque é que os meus amigos nunca me sugeriram este contista do Rio Grande do Sul?
HUMOR DO AVIZ. Abriu as portas, encheu os cinzeiros, tirou os dois ou três livros da bagagem, arrumou as cadeiras, e está de volta. O Francisco regressou – e isso é tudo.

P.S. – Pelo que sei, o Francisco regressou com muito bom humor. Tal como o Joel, eu também sei que isso só vai durar até amanhã. Depois, o Aviz vai meter baixa, pelo menos, até sábado – também aqui concordo com o Joel. Há coisas que Roberto Carlos devia saber. O Francisco só chegou ontem. Não se faz. Não se faz isto a um homem.
TINHA RAZÃO. Eu sabia. Os meus amigos diziam que não, que não havia justificação nenhuma para eu nunca – ou quase nunca – ir à praia. Mas, no fundo, eu já sabia. Agora, sempre tenho uma notícia da BBC do meu lado. Guardei-a em local desconhecido. Para o ano, os mesmos amigos vão dizer que não há problema. Não vou. Protector solar? Sempre desconfiei.
ESTRAGO DA NAÇÃO. Não sei se é por causa deste Mac, mas não consigo ler nas melhores condições o novo blog de Pedro Almeida Vieira. Espero que seja por pouco tempo. «O Estrago da Nação servirá sobretudo para descarregar a minha fúria sobre os aspectos que mais me irritam em Portugal e nos portugueses. Vou ser, sempre que possível, sarcástico, irónico, crítico, contundente», escreve o Pedro. Tenho a certeza que o será. Habituou-nos a isso – sempre com os seus argumentos bem sustentados. É um jornalista como poucos.

segunda-feira, setembro 29, 2003

AMBAR DE BOLSO. É uma das iniciativas editoriais a merecer muita atenção. Sim, confesso que sou suspeito. Sempre gostei de colecções de bolso. No caso da Ambar, então, há muito por onde pegar: não se trata de reedições à força, em pequeno formato, de obras que já tinham em carteira; pelo contrário, publicam obras inéditas em Portugal; estão atentos à literatura brasileira (Tabajara Ruas e Luiz Antonio de Assis Brasil, por exemplo); o papel é bom; tem um grafismo arejado; e, acima de tudo, mostram respeito e cuidado pela edição de bolso. Eu peguei por aqui. Mas há mais.

domingo, setembro 28, 2003

SÁBADO. O Aviz já o tinha escrito. « O mundo devia fechar de vez em quando. Nem sequer para balanço. Só para que o vento, chegado do alto da terra, nos obrigasse a respirar. Seria um longo sábado de Verão.» O sábado também deveria ser sempre como o de ontem. Melancólico e húmido. Ou só húmido.
LISTA TELEFÓNICA. É um caso misterioso. A lista telefónica do meu telemóvel não é muito extensa. Setenta nomes, no máximo. Não é, claro, isto que contribui para o mistério. Passo a explicar. Ontem alguém me interrogava: «Que nome é este, TROG?» Não sabia. «E A1, de quem é?» Também não me lembrava. «Bom, e Z? A quem pertence?» O que até ali não passava de duas excepções começou a tomar proporções preocupantes. «Olha lá, e este ED?» Desliguei o telemóvel e coloquei o meu amigo porta fora.
FUTEBOL LITERÁRIO. Digo-o sempre a um amigo – e só a ele. Não há nenhum clube em Portugal que pratique um futebol literário. Não, claro que eu não sei defini-lo. Se soubesse deixava de ser literário. Ontem, voltei a ler mais algumas histórias de futebol de Javier Marías. «Disse-se que então Butragueño pensava mais rapidamente que os outros, e eu não acho que fosse assim: a sensação que sempre tive perante as suas melhores jogadas é que não pensava (só esperava) e os outros sim, e que por isso não o podiam seguir, nem parar, nem antecipar-se. O seu futebol prescindia até do pensamento e por isso não tinha significado. O do nosso herói actual, Laudrup, esse sim, é pensado, literário, tem significação. O de Butragueño, que não veremos mais, era ao invés musical e não precisa de letra nem de explicação. Como a música, só pode cantarolar-se, nada mais.» Como escrevi, nunca saberei definir aquele tipo de futebol. Talvez só cantarolar. Mas este espanhol e este dinamarquês representaram-no na perfeição.
CONGRESSO DE DIREITA. O discurso final de Paulo Portas estava marcado para pouco depois das 15 horas. Às 17h25 ainda não tinha dito nem uma palavra. Nunca percebi. Um partido que se quer de direita e depois não cumpre os horários – é uma contradição de termos. Pelo menos, para um conservador é-o. Um partido assim é um partido de pacotilha. E nunca de direita.
LILAC WINE II. Escreve-me Anouk A: «Antes de Jeff, Nina Simone cantou Lilac Wine. Se ainda não ouviste esta senhora a cantar, aconselho-te que o faças. Esta música e outras. Jeff gostava muito de a ouvir e de cantar as suas músicas. Entende-se porquê. Os reflexos de escuridão de ambos são muitos idênticos, com as devidas excepções. Depois de ter ouvido Nina a cantar Lilac Wine, embriagada de dor-amor consegui entender um pouco melhor o universo sonoro de Jeff Buckley.» De facto, cara Anouk, nunca ouvi Nina Simone a cantar Lilac Wine. Vou seguir o seu conselho. Mas não para perceber melhor o universo sonoro de Buckley.
TIJOLOS DE PAPEL. Não sei se influenciados pelos relatórios que circulam pelo Parlamento Europeu, pelas teses de doutoramento de algumas universidades portuguesas, ou pela leitura de Proust, a verdade é que os egipcíos preparam-se para apresentar à FIFA um dossier de 30 quilos – mais de 1500 páginas. O objectivo é organizar o Mundial de futebol de 2010. Se o júri for dominado por franceses, desde já aposto nesta candidatura. Sem espinhas.
CORREIO PARA MONDIM. Foi um dos concelhos com notas mais altas a Português. É motivo mais que suficiente para daqui enviar os mais respeitosos cumprimentos ao meu leitor de Mondim de Basto. Bem merece.

P.S. Como é habitual, só justifico a minha ausência a este leitor. Ontem, aconteceu mais uma vez. Foi propositado. Estava com saudades da sua prosa – que chega sempre por e-mail.

sexta-feira, setembro 26, 2003

LILAC WINE. A minha resistência durou apenas dois dias. Dois dias depois de receber o álbum, em Agosto de 1997, a rendição foi total. A voz de boémio melancólico, os sons meio perdidos, as letras no limiar do abismo, como Lilac Wine, o prolongamento da música até quase ao seu infinito. Jeff Buckley não me largou desde esse dia. Desde o momento em que me apresentou Grace – e depois Mystery White Boy e Sketches for My Sweetheart The Drunk, por exemplo.

When I think more than I want to think
Do things I never should do
I drink much more that I ought to drink
Because I brings me back you...


P.S. – Sim, eu sei que o autor da letra de Lilac Wine não é Jeff Buckley. Mas sem a sua voz a letra ficaria morta. Disso não tenho dúvida.
NUNCA MAIS É DOMINGO. «Ainda não tens bilhete?», «Ficas no relvado ou nas bancadas?», «Não acredito que não vais a Coimbra», «Levas a t-shirt do Jagger?», «Quando conseguiste esse bilhete? Foi na Galp ou na BP?».

quinta-feira, setembro 25, 2003

APRECIAÇÕES. «Apreciei muito este livro», diz a senhora para a sua amiga. Apanhei a frase assim – solta. Para ser honesto, nem sei se eram amigas. No entanto, concentremo-nos na frase. Sabemos que há muitos verbos para tirar da gaveta quando se fala de livros. É um exercício curioso. O(s) verbo(s) escolhido(s) nestas circunstâncias – para não falar dos adjectivos – podem esconder várias atitudes. Se o leitor ficou siderado com o livro, se apenas gostou, se destestou, se o deitou para a fogueira. Por exemplo, o verbo «apreciar» é límpido, sofre de demasiada transparência. Por isso, neste caso, posso com segurança escrever que a senhora ou não chegou a ler o dito livro ou, se o leu, teve tanto prazer como quando vai despejar o lixo. Por favor. Ninguém «aprecia» um livro.
PASTA NEGRA. Armação de Pêra, tal como Quarteira, tal como outras localidades algarvias, pertencem à minha pasta vermelha de geografia. Aquela que diz «só em caso de vida ou morte». Há três dias criei outra. É preta e intitula-se «nem em caso de vida ou de morte». O ficheiro inaugural pertence agora a Armação de Pêra. É que os representantes lá do sítio «limparam» tudo o que era árvore. As poucas que ainda existiam na Avenida Beira Mar, refere o Público, foram cortadas porque o óleo que deixavam cair estragava a pintura dos automóveis.
GIGANTES DA CIÊNCIA. Não consigo imaginar. Tento, mas não consigo. Ser citado 106401 vezes. Bom, Bert Vogelstein é a melhor pessoa para explicar qual é o sabor.
ANASTASIA. É o primeiro nome da bailarina que foi despedida do Teatro Bolshoi de Moscovo. A justificação para tal facto inédito é simples: Anastasia, uma das bailarinas mais conhecidas da Rússia, estava demasiado gorda. Lembro-me que foram estas referências que guardei da notícia que li há dois dias. Bom. Sei agora que Anastasia não se chama só Anastasia, é claro. Anastasia Volochkova tem 27 anos, mede menos de 1,70m e pesa cinquenta quilos. A prova da loucura moscovita está hoje numa das páginas da Visão. É linda. Porque é que eu ainda não a conhecia? Para que servem os amigos, afinal de contas?
BENFICA À LUZ. A exibição do Benfica ontem esteve à altura do «português» do senhor Nuno Luz. A equivalência não podia ser mais perfeita. A SIC pensa em tudo.

terça-feira, setembro 23, 2003

BASTAVA DEZ CÊNTIMOS. Aproveitando a ideia de umblogsobrekleist, «Eu gostava de ter um euro…», passo a enunciar também a minha lista. Contudo, no meu caso bastava dez cêntimos…

…por cada vez que leio nos jornais e revistas expressões como «é a …, estúpido», ou «comportou-se como um elefante numa loja de porcelanas», ou «à distância de um clique».
…por cada vez que alguém diz «tive uma runião».
…por cada vez que Fernando Santos mexe no crucifixo.
…por cada vez que Pedro Rolo Duarte lê um blog às escondidas da sua redação.
…por cada vez que Paulo Catarro vibra em directo com um golo do Benfica.
…por cada vez que alguém quer desistir do seu blog mas não consegue.
GARFADA EM PALM-TOP. Contra todas as convenções, tento que o meu almoço seja tranquilo, em boa companhia, e que a sua duração dependa apenas da minha vontade. Hoje, por exemplo, foi impossível. Por um único motivo: aquele senhor que, sentado na mesa do lado, utilizava o garfo para teclar no seu palm-top. Não há aqui nenhum tipo de exagero. Notei, aliás, que havia um certo ritmo no seu comportamento. Uma garfada no bife-tempo para virar o garfo-toque no ecrã. E isto deve ter acontecido até o bife estar devorado. Não sei. Saí logo. É nestas alturas que o meu conservadorismo se manifesta de forma dermatológica. A consulta com o dr. Mesquita está marcada para amanhã.
QUASE UM ANO DEPOIS. Melhor: dez meses menos quatro dias depois do naufrágio do Prestige, eis que o «Parlamento Europeu aprova hoje a constituição de uma comissão de investigação às causas e consequências do acidente do petroleiro», lê-se no Público.pt. Daqui a dez meses: «Parlamento Europeu aprova hoje relatório preliminar da comissão de investigação, ao que se seguirá um relatório aprofundado, sobre as causas do acidente do Prestige». Naquele ou em outro jornal. É indiferente.
PELO COLARINHO. O texto de Luis Filipe Borges, no Desejo Casar, agarra-me pelo colarinho. Toda a análise que faz do FC Porto é genial. Por vezes, utilizamos os adjectivos sem os respeitar. Não é este o caso. Genial.

P.S. - Se este foi o resultado de uma directa, aconselho-o a passar mais noites assim.

segunda-feira, setembro 22, 2003

NOVELA. Com as devidas diferenças, o rocambolesco caso que envolve Maria Elisa tem todos os ingredientes de um retrato queirosiano. Provincianismo, chico-espertismo e hipocrisia em doses suficientes. A distância é de um século, pelo menos. Nós sabemos. Mas não há assim tantas diferenças. O cheiro a mofo continua igual.

P.S. – Porventura exagerei quando escrevi «com as devidas diferenças».
INTERRUPÇÃO PARA UM PONTAPÉ. É o símbolo do FC Porto, tentam justificar-me. Não adianta. Ontem, mais uma vez, o capitão da equipa das Antas portou-se à altura. Como um autêntico obtuso. Cada vez que vejo Jorge Costa jogar, só fico com pena que não existam mais jogadores como Weah por esse mundo fora.
CONFIRMAÇÃO. Contra a minha vontade, instalei um sitemeter para saber, afinal, quantos leitores diários tenho - além do senhor de Mondim de Basto. Confirmou-se. Hoje foi só ele. Nunca duvidei.
UM ALMOÇO IMPOSSÍVEL. Tenho à perna o meu leitor diário de Mondim de Basto. Três mensagens a avisar-me que não escrevo nada desde ontem. Eu bem lhe respondo que é a preguiça a devorar-me, os amigos, o sono, uma simples cerveja, a família, o futebol, os livros. Enfim, a vida. Nada feito. A sua prosa, em forma de aviso, é sempre delicada e revela uma sabedoria fora de comum. Porque é que não as publico? O meu leitor de Mondim de Basto assim o exige. Porque é que me escreve? Nunca saberei. Já o convidei para almoçar. Diz que é impossível.

sábado, setembro 20, 2003

ENTARDECER. Conseguimos perceber a sua sonolência. Não só pela luz. Há vários sinais. Os sons mais lânguidos da High Street, a embriaguez tardia dos pubs da Quay Street, os pescadores no meio das águas do Corrib, a sombra do Spanish Arch, os múrmurios da velha doca, os passos tardios na Claddagh Quay. Todas as cidades têm o seu momento de sono. A diferença está em saber adormecer. E isso Galway sabe melhor do que ninguém. O entardecer de Galway.
A DESPEDIDA. A cerimónia pública de homenagem a Anna Lindh foi um exemplo de elevação, sentido respeito e nobreza na hora do adeus. Um assombro de humanidade.
DESCE E DESCE. Tornou-se um hábito. O sobe e desce do Público é dominado, semana após semana, por personalidades «a descer». Quando não é a totalidade, como hoje, é a maioria. Se a coluna não fosse assinada pelos jornalistas, apostava que aquele jornal tinha contratado Manuel Alegre ou Baptista-Bastos.

P.S. – Há três semanas, creio, Ferro Rodrigues era a única personalidade que subia. Hilariante, no mínimo.
FORA DE TEMPO. Na última quarta-feira foi possível ver na SIC Gold o programa Fora de Série. Neste caso, a primeira de um conjunto de entrevistas de Carlos Cruz a adolescentes. O director da SIC Gold já lamentou o sucedido e afirmou tratar-se de um lapso. A tempo não foi, mas sempre é reconfortante ver que, afinal, a televisão ainda consegue guardar uma leve dimensão ética.
RESPEITAI OS ADJECTIVOS. Faz parte da lógica do jornalismo desportivo, dizem-me. É uma desculpa que só governa os preguiçosos, respondo. Em cima da mesa do café estava a utilização desproporcionada de adjectivos por parte das televisões, rádios e jornais na cobertura do futebol. Conta-se um caso concreto. No último Domingo Desportivo, Cecília Carmo afirmava que o Marítimo, por exemplo, era a «grande revelação da temporada» – quando minutos antes um outro jornalista referia que a equipa insular era, na verdade, uma «excelente equipa». Ora bem, não consigo perceber como é que há uma «grande revelação» à quarta jornada, muito menos como é possível já escolher «a grande revelação da temporada». Bom, muito menos percebo como é que o Marítimo é uma «excelente equipa». Então e o Porto? Para não falarmos do Manchester United, o Real Madrid ou a Juventus. Como é que as poderíamos qualificar, tendo como ponto de partida o «excelente» Marítimo. Alguém devia responsabilizar estes senhores pelos adjectivos que utilizam – ainda para mais na estação de serviço público. Os adjectivos merecem mais respeito. Nós também.
PROVOCAÇÃO. Pois é, Joel, amanhã sempre vais ter a prova que Moreira não é Ricardo.

sexta-feira, setembro 19, 2003

ESTADOS UNIDOS. Para Erico Verissimo foi, antes de mais nada, «o feriado dum contador-de-histórias». Para mim, Gato Preto em Campo de Neve continua a ser o melhor livro de viagens que alguma vez li. Volto a encontrá-lo. É sublime. Até no título. «Quanto ao título, não quebre a cabeça. Não tem nenhum sentido secreto ou simbólico. Refere-se apenas a um gato preto e anónimo que atravessou um campo de neve no Colorado, quando eu passava de comboio».

quinta-feira, setembro 18, 2003

35 MINUTOS. A reserva fora feita há dois dias. «É para as onze horas, minha senhora». Hoje, às onze, lá estava eu na Europcar – ali na Avenida António Augusto Aguiar. De muito bom humor, devo acrescentar. Pois bem. Preencho os papéis que tinha a preencher e, claro, fico à espera. Cinco minutos. Dez minutos. Continuo de muito bom humor. Quinze minutos. Vinte minutos. Passa para o bom humor. A esta altura já tinha sido avisado que havia um pequeno atraso. «Problemas de frota», afirmam. Muito bem. Vinte cinco minutos. Trinta minutos. Pergunto pelo carro. «É já o próximo», garantem. Trinta e cinco. Quarenta e dois minutos. Não há humor que aguente. Protesto. Peço satisfações. Finalmente, o carro aparece. O gerente da loja não me deixa sair sem antes referir: «desculpe, mas não esteve à espera quarenta e dois minutos – foram trinta e cinco».
RANCOR. Desde segunda-feira que as tricas futebolísticas ganharam novo fôlego. Não é caso para menos. Para além de ser o último clássico nas Antas, Simão e Jorge Costa vão reencontrar-se. Apesar de tudo, não tenho sofrido muito nos últimos dias. Mas, quando vejo – sim, ainda há uns idiotas por aí – discussões futebolísticas que ultrapassam o limite do humor e entram no campo da estupidez e do inevitável rancor, como foi o caso de hoje, lembro-me daquela frase de Javíer Marias: «Há que reconhecer que [o futebol] tem qualquer coisa de inestimável e que não costuma acontecer nas outras ordens da vida: incita ao esquecimento, o que equivale a dizer que nunca incita ao rancor, coisa que só se aprende da idade adulta.» Pois é, por vezes esqueço-me. Há senhores que, definitivamente, nunca deixam o raciocínio infantil.

quarta-feira, setembro 17, 2003

NO SMOKE. A onda antitabagista ainda só se faz sentir nos maços de tabaco, publicidade e pouco mais. Se não passar daí, nada tenho de manifestamente contra – não fumo cigarros, para ficar claro. A vontade do fumador não está limitada em excesso, nem muito menos é colocada em causa a sua responsabilidade. Mas há, para além das directivas de Bruxelas, a lei dos estados-membros da União Europeia. Para além da Noruega – sim, eu sei que não pertence aos Quinze – e da Holanda, o governo irlandês também pretende proibir o tabaco nos pubs a partir de 1 de Janeiro de 2004. E é aqui que há motivos para saltar da cadeira. Tal como uma Guiness ou uma Smithwick´s, tal como o whiskey, o fumo é indissociável da cultura boémia irlandesa. A fotografia da capa do livro de James Joyce, Dubliners, edição Peguin Classics, é disso uma prova. Apenas uma. Não há lógica nenhuma. Não se trata de saúde pública – quem vai a um pub sabe ao que vai. Ainda para mais na Irlanda. Trata-se de uma pequena loucura que mais tarde ou mais cedo tem de ceder ao bom-senso e à razoabilidade. Não imagino o T & H Doolin, em Waterford, ou o Chateau Bar, em Cork, ou o Ej Kings, em Clifden, ou o Tí Neachtain, em Galway, ou o Matt Molloy´s, em Wexford, sem muita cerveja, música, risos, whiskey e fumo. Muito fumo. O crack irlandês é assim. Esta mania da «higienização» a toda a força e a martelo começa a tomar proporções de desvario. Logo na Irlanda.
ARCHIE BUNKER. Acabo de ver na SIC Gold – será que está na programação há muito tempo? – um dos personagens da minha infância. O cáustico Archie Bunker. O que eu dava para algum dia estar sentado naquele sofá. Às direitas.
AINDA SOBRE DOMINGO. «Os últimos dias da Feira Popular». Lê-se no Público. Sempre é uma certa ideia do país que acaba. Felizmente.

terça-feira, setembro 16, 2003

DEBATEU-SE? A RTP anunciou-o como um grande debate. Convidou sindicalistas, professores, autarcas, empresários, alunos, pais e ministro. A emissão seguiu no exterior de uma escola da Póvoa do Varzim. O dia era perfeito: as aulas iniciavam-se em força. Mas o resultado foi muito fraco. As constantes interrupções do jornalista, a pequena trica entre os convidados da mesa, as generalizações há muito gastas, a superficialidade dos discursos, o pouco tempo que cada interveniente tinha para falar provaram-me, mais uma vez, que este tipo de debates só quer valer pelo invólucro.
UM DIA BOM? «Este foi um dia bom para a diocese», disse o padre Christopher Coyne na passada sexta-feira. Eu não percebo nada disto. Mas não há qualquer coisa de estranho quando uma diocese da Igreja Católica, neste caso de Boston, consegue um acordo com 552 vítimas de abuso sexual através de uma indemnização de 85 milhões de dólares? É um dia bom? Eu, como disse, não percebo nada disto.
LABIRINTOS. Ontem, na SIC Mulher, num programa que tinha os sapatos como tema de discussão, estavam duas convidadas. Nada de muito especial. Segui no zapping. Não, volta lá atrás. E pronto. A suspeita inicial confirmou-se. Era ela. A Catarina Furtado bem loirinha com os lábios pintados de vermelho. Nunca conseguirei perceber – nunca – a mente feminina. Há labirintos e há labirintos. É a vida.
O RISO DA BARBÁRIE. O episódio da morte do touro no castelo de Monsaraz mostrou-me, mais uma vez, o que separa a civilização da barbárie.
ESTÁDIO DAS PAIXÕES, BRAGA. É um assombro. Um sopro de génio. Eduardo Souto Moura criou a obra do Euro 2004. O resto é puro foclore.

segunda-feira, setembro 15, 2003

SO WHAT? Um professor de Ciência Política que tive na Universidade reagia sempre do mesmo modo perante os trabalhos escritos da maioria dos alunos. «So what?». «O que é que isto traz de novo?». O resultado desta apreciação era, tão só, uma nova apresentação dos temas até aquele velho homem estar satisfeito com os resultados. No sábado, mais uma vez, lembrei-me deste professor. Lia então o editorial de José António Saraiva no Expresso. É verdade, eu li todos os caracteres daquele texto intitulado O passeio da fama. Já todos conhecemos o seu estilo. Ou seja, sabemos ao que vamos. Mas, desta vez, surpreendeu-me a banalidade. Confesso. A análise do director daquele semanário sobre a mediatização do futebol está lá. E isso é exactamente o problema. Em todas aquelas linhas não há uma ideia nova, não há uma análise que não passe do patamar do senso-comum, não há uma abordagem diferente. «So what?».
HÁ MOTIVOS PARA LER A STORM. Há uma entrevista com Richard Zimler, que tem como pano de fundo o seu mais recente romance, Hunting Midnight – a publicar brevemente em Portugal. Há também outra entrevista, neste caso com o soberbo autor de Os Papéis de K. E há também dois poemas inéditos de Manuel António Pina. Goste-se ou não, merece, desta feita, a visita. Vá .
AGORA, O NÃO SÓ. Pois é, mas logo a seguir ao elogio o Joel faz uma deliciosa provocação. «De facto, Moreira não é Ricardo», escreve. Bem sei que o link não traz o leitor ao Sem Caracteres (porque raio foste parar ao SeteZero?), mas fui eu que escrevi aquela passagem em resposta ao mais ressentido comentário futebolístico do Joel – escrito há uma semama, no fim do jogo em que o Sporting foi goleado nas Antas: «Lâmpios de todo o Mundo: vamo-nos rir à gargalhada daqui a quinze dias». Agora, este lagartão respondeu à letra, depois de um fim-de-semana em que as coisas não correram muito bem para o lado da Luz. Caro Joel, eu mantenho tudo o que escrevi há quinze dias. «Moreira não é Ricardo, Luisão não é Beto, Tiago não é Custódio, Geovanni não é Tello e, sobretudo, Sokota não é Lourenço. E só isto já é uma grande vantagem.» No próximo fim-de-semana já saberemos quem tem razão. No entanto, qualquer que seja o resultado, há um aspecto em que concordaremos sempre. É assim que dá gosto discutir «a bola».
AGRADECIMENTO E NÃO SÓ. O Joel escreveu mais uma linha muito elogiosa sobre o Sem Caracteres. Fico muito feliz por isso. Sinceramente.

sábado, setembro 13, 2003

AVISO PARA MONDIM. O meu fim-de-semana só agora vai começar. A poucos minutos da partida, não posso garantir ao meu leitor diário de Mondim de Basto que amanhã me encontre aqui.
MANIFESTO TABAGISTA. Guardo os meus dois textos sobre o assunto para segunda-feira – sim, sobre esta onda antitabagista que varre a União Europeia. Mas afirmo, desde já, que não podia estar mais de acordo com o Abram os Olhos.
FACTOR PENN. Já o escrevi aqui. E antes de saber da atribuição do prémio de melhor actor no Festival de Veneza pela interpretação em 21 Grams. Sean Penn é um dos meus actores. É o tal «factor Penn», tal como o «factor Spacey», que me faz sair de casa – mesmo que os críticos arrasem os seus filmes. Só ainda hoje não consigo compreender como foi capaz de estar casado três anos com essa espécie musical que dá pelo nome de Madonna. Nem os melhores são perfeitos.

sexta-feira, setembro 12, 2003

CORES PERIGOSAS. As razões são mais que conhecidas. E até a um certo limite percebem-se perfeitamente. Mas há esse limite de razoabilidade que quando ultrapassado nos faz entrar no domínio do ridículo e de uma certa esquizofrenia. Desde o atentado de 11 de Setembro que quem viaja para os Estados Unidos tem de passar por exigentes controlos de entrada. Com o país em guerra, é perfeitamente compreensível, mesmo que isso se traduza em algum desconforto para o turista comum. A acreditar numa notícia breve da Visão, a partir de 2004 cada passageiro que viajar para os Estados Unidos terá uma identificação especial. Ou seja, depois de cruzadas todas as informações, a pessoa receberá uma etiqueta verde, laranja ou vermelha consoante o risco potencial que represente para o voo. «Um passageiro laranja será alvo de medidas especiais de vigilância; um vermelho pode ser detido no aeroporto.» É assim que termina a notícia. Ainda tenho reservas sobre o carácter genérico da informação e sobre o método utilizado de exposição da etiqueta, mas a confirmar-se, então os Estados Unidos ultrapassaram uma fronteira muito perigosa nos direitos individuais que não se justifica.
RECORTE DO QUOTIDIANO I. Não tenho rádio no carro. Acontece. Coisas de deixá-lo perto do El Corte Inglés para ir ao cinema. Por isso, não lhe liguei muito nos últimos meses. Hoje foi uma excepção. A curta viagem no carro de um amigo permitiu-me fazer um agradável zapping radiofónico. Dei, pelo menos, três voltas a todas as estações. Os últimos dois minutos foram gastos a ouvir o «O Homem que Mordeu o Cão». Sou honesto: nunca gostei do tipo de humor de Nuno Markl e ainda hoje não percebo o sucesso do programa. As histórias só valem pela sua bizzaria. A volta que o apresentador lhes dá resulta em graçolas fáceis e previsíveis – acompanhadas pelos risos constantes dos seus dois colegas. Por exemplo, onde está o humor quando se fala da (in)compatibilidade sexual entre João Ratão e a Carochinha, como foi o caso de hoje? Os ditos colegas, esses, riem sempre. É essa a sua função.
RECORTE DO QUOTIDANO. Devem ser dois os donos da pastelaria onde tomo, desde há três meses, o meu pequeno almoço. Não tenho nada a apontar à qualidade e higiene do espaço. O seu fabrico próprio, então, é de fazer inveja. Levanto aquela hipótese na primeira frase apenas com base num indicador que, presumo, esteja certo a 85%, pelo menos. É muito simples. Quando estou ao balcão – eu e mais duas dezenas de pessoas -, é raro o dia em que aqueles dois senhores não reprovem publicamente qualquer acto dos seus colegas. A reprovação é, por vezes, humilhante. Não exagero. Os clientes, ao balcão, têm aquele comportamento típico do assobio para o lado. Sim, eu também.
NOTAS IMPREVISTAS. Escrevi no último post que a discussão prometia. Não foi o caso – aliás, esteve a léguas disso. Do «duelo imprevisto» de ontem entre Mário Soares e Pacheco Pereira ficam as seguintes notas:

1. Mário Soares não sabe verdadeiramente discutir. Se começou o debate com uma pose mais ou menos bonacheirona, à medida que ia perdendo argumentos a sua irritação aumentava e o comportamento do tipo «olhe que não, olhe que não» era a única resposta que tinha para Pacheco Pereira. Muito pouco. Este, por seu lado, manteve sempre um comportamento exemplar na discussão, mesmo quando tinha de responder a provocações e frases feitas de Soares. Manteve a serenidade que se esperava.

2. Pacheco Pereira é um intelectual na verdadeira acepção da palavra. Tem cuidado com todos os termos que utiliza; desmonta minuciosamente os argumentos do adversário; não embarca em generalizações abusivas, é um orador prodigioso – e por isso não precisa de elevar a voz para fazer-se ouvir; e não precisa de provar nada a ninguém. Mário Soares, pelo contrário, mostrou neste «duelo» que as suas opiniões têm quase sempre laivos demagógicos que pretendem atingir um certo objectivo. As generalizações sem sentido que utilizou – como a «culpa pela situação actual é do imperialismo mundial», ou a «pobreza mundial é a causa principal do terrorismo» –; os argumentos maniqueístas; a postura de inimputável que o faz rir sempre que não consegue responder revelam apenas que Mário Soares está muito longe de ser um intelectual português.

3. Mário Soares não relevou como facto político o 11 de Setembro. Apenas o condenou, mas nunca retirou daí qualquer lição no plano político. Comparou, por exemplo, o discurso de Bin Laden ao de George W. Bush – e colocou-os no mesmo plano. Há poucas diferenças nisto tudo, para Soares. Para mim, no entanto, é revelador.

quinta-feira, setembro 11, 2003

AGENDA. Será interessante hoje ver a SIC Notícias por volta das 23 horas. No programa «Duelos Imprevistos», Mário Soares e Pacheco Pereira discutem o pós-11 de Setembro. Os argumentos são conhecidos, mas o duelo promete.
MÁQUINA DE LIVROS. Leio a notícia solta no site da Lusa.Tem como título «A máquina que empresta livros chega dentro de três meses à Batalha». O projecto conta-se em poucas palavras. A autarquia, com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian, vai instalar duas máquinas na vila que emprestam livros por 24 horas. Os cidadãos podem assim ter acesso gratuito à leitura a qualquer hora. Mas, segundo a mesma notícia, «os títulos que deverão ser disponibilizados não deverão ser muito volumosos, dado que os utentes têm apenas 24 horas para os ler». Não percebo. Se o objectivo é incentivar a leitura - e ter acesso a livros 24 horas por dia é uma ideia que há muito me agrada -, então parece-me contraproducente baseá-lo numa espécie de contra-relógio, onde só se disponibilizam os livros que, a avaliar pelas páginas, podem ser lidos num dia. E quem vai decidir quais são os critérios? E os autores, portugueses ou não, que só publicaram livros com mais de trezentas páginas? Ficam irremediavelmente de fora? Ou é preciso ir três dias seguidos à maquineta para os ler? A ideia até pode ser boa se corrigida a tempo. E ainda há tempo.
DESNECESSÁRIO E MUITAS VEZES LAMENTÁVEL. Às vezes mais vale não escrever – mesmo num blog. É o caso de hoje. Alguns dos posts relacionados com o 11 de Setembro – sim, o de 1973 e de 2001 – são absolutamente lamentáveis. Li algumas piadas fáceis e discussões infantis em blogs escritos por pessoas com mais de 30 anos. Foi um dia revelador.
MATÉRIA POÉTICA. A sugestão do Aviz levou-me até Nietzsche & Schopenhauer, que se apresenta como «um blog optimista sobre o Benfica». Estes senhores – Artur e Frederico – escrevem, num dos últimos textos, sobre a «qualidade» dos nomes dos futebolistas. Neste caso, percebe-se que o seu universo de análise seja apenas o Benfica. No entanto, aproveito a ideia para escrever que há no futebol dos últimos dez anos, segundo a análise mais saborosa e subjectiva de um adepto, três nomes que são «matéria poética» – para utilizar uma expressão que li no Desejo Casar. Não só pela sonoridade literária dos mesmos, mas principalmente pela forma como estes jogadores tratavam a bola. Ou, melhor, como a bola reconhecia a sua mestria. Dois jogam agora no Qatar – um deixou de jogar há alguns anos. Pep Guardiola, Gabriel Batistuta e Eric Cantona. São nomes fabulosos. O futebol devia ser sempre assim.
UMA POR SEMANA. «Nós, a Cultura e Eu» é o título do ciclo de entrevistas que vai decorrer na Fundação Serralves entre 16 de Setembro e 9 de Dezembro. Todas as terças-feiras, das 21h30 às 23h, Anabola Mota Ribeiro - sim, podia ter sido melhor a escolha - conversa com várias personalidades. Do programa que parou na minha secretária, destaco as entrevistas a Adriano Moreira (16 Set.), Sobrinho Simões (30 Set.), Gomes Canotilho (21 Out.), Agustina Bessa Luís (11 Nov.) e Eduardo Lourenço (09 Dez.).
JUSTIFICAÇÃO DE FALTA I. Desta feita, meu caro leitor de Mondim de Basto, foi mesmo um monumental almoço, seguido de uma saborosa sonolência permanente que justificam a minha ausência de ontem. Mas muito obrigado por ter cá vindo.

terça-feira, setembro 09, 2003

CAMÕES. Há uma semana, o Não Esperem Nada de Mim e o Aviz comentaram a iniciativa da Actual (Expresso) de convidar várias personalidades a escrever sobre Os Lusíadas. Na altura, como agora, não podia concordar mais com tudo o que disseram. A ideia é boa, percebe-se a intenção, mas muitos dos textos dos nossos «intelectuais» afastam qualquer pessoa logo à primeira linha. A última edição, mais uma vez, é a prova disso. Escreve a ensaísta Joana Matos Frias: «O mais histórico dos poemas foi o que cedo me ensinou a intemporalidade da poesia e a atemporalidade do poema, graças à previsibilidade encantatória das indas e vindas, à circularidade dos avanços e retornos do discurso, à harmonia isossilábica e à pressão métrica, com todo o contorcionismo de tensões e distensões no corpo das palavras que tal coreografia exigia […]». É exemplar. Lembro-me que foi também desta forma exemplar e muito erudita que as várias professoras de Português que tive contribuíram para o facto de muitos alunos – pelo menos naquela altura - não lerem nada de Camões.
ESMAGADORES. Se sempre existiram mais baixos que altos na comparação entre os vizinhos ibéricos – no que toca ao lado português, é claro –, as últimas semanas têm sido esmagadoras. Repare-se, por exemplo, no desporto. Juan Carlos Ferrero tornou-se número um do mundo em ténis, apesar de ter perdido a final do Open dos Estados Unidos. A selecção de futebol dá um lição magistral (0-3) à equipa portuguesa em Guimarães. No mundial de motociclismo, que passou há dias pelo Estoril, dois espanhóis lideram o campeonato de 250cc e 125cc e outro está em quarto lugar em 500cc. No Europeu de basquetebol, a decorrer na Suécia, a selecção espanhola já atingiu os quartos-de-final. Na Fórmula 1, Fernando Alonso tornou-se o mais jovem piloto (22 anos) a vencer um Grande Prémio. E isto é só uma amostra.
BIBLIÓFAGOS. O Público ajudou-me. Não é todos os dias que um homem pode dizer que o seu jornal diário o ajudou verdadeiramente. Mas é verdade. Aquela página 39, sobre as cinco maiores ameaças, permitiu-me, muitos meses depois do primeiro ataque e necessárias respostas – sem resultado, sublinhe-se -, conhecer em pormenor o inimigo de tudo o que é papel em cada da minha avó. Vou tratar das armadilhas, como sugere o jornal.

P.S. Mas que raio de armadilhas podem dar cabo da vida destes insectos de pouco centímetros? Isso o Público não diz. Está mal.
ISTO É. Não é a minha revista brasileira. De todo. Sou um leitor incondicional da Veja. No entanto, a edição especial da Isto É Gente, que comemora o seu quarto aniversário, deixou-me perplexo. Como é possível escolher Carolina Dieckmann, uma jovem actriz, para acompanhar o título: «A mais sexy do Brasil»? Não se percebe. Há, desde logo, dois erros crassos. Primeiro: mesmo só no âmbito das jovens brasileiras, Carolina Dieckmann estaria, no mínimo, em décimo lugar. Aline Moares, Lavínia Vlasak e Luciana Gimenez disputariam – elas sim – a capa. Segundo: Susana Vieira, 60 anos, a mais fabulosa actriz brasileira, não está entre as 25+. Esta edição, decididamente, é uma farsa.
NOTAS DO METRO. Estão por todo o lado. Hoje, um exemplar da espécie sentou-se à minha frente. De pochete debaixo do braço, o dito senhor, na casa dos 50, começou logo a discorrer uma teoria sobre como circular nas rotundas de «forma eficaz». Assim mesmo: «de forma eficaz». O amigo ouvia-o atentamente. Conhecemo-los. Estes cavalheiros têm um cardápio para todos os gostos. Já ouvi, por exemplo, sobre «como ter carta há 30 anos e nunca ter tido um arranhão no carro»; «como passear no Intendente às duas da manhã e nunca ser assaltado»; «como ganhar ao Porto do Mourinho em 15 minutos apenas»; «como conseguir resolver o problema da fuga de óleo do carro só com um martelo». Enfim, todo o nosso quotidiano está catalogado. Nem o mais insólito pormenor fica sem explicação.
FALTA JUSTIFICADA. Não, não foi o meu computador que pifou. Também não foi por falta de vontade. A net é não quis nada comigo. Não ligava, ponto. Ontem foi mesmo assim. A eterna paciência do meu visitante diário de Mondim de Basto obrigava-me a justificar tal falta de comparência.

domingo, setembro 07, 2003

NO MIL FOLHAS, ONTEM.
-Consegue escolher o livro da sua vida?
-Consigo.

sábado, setembro 06, 2003

LEMBRAR SETEMBRO III. Nos primeiros dias, a cidade reencontrava-se. Lentamente. As cores mudavam. Os amigos de Verão partiam. E com eles as promessas que nunca se cumpririam.

sexta-feira, setembro 05, 2003

CLUBE DO PICADINHO. O A. escreve uma receita simples de espargos. Exactamente, um blog também deveria servir para isso. Uma deliciosa troca de receitas. Aguardemos, então.
LEMBRAR SETEMBRO II. Aquela velha mochila apinhada de livros para o primeiro dia. Era vermelha.
O IDEAL. A 17 de Maio de 1888, o Conselheiro Aires escreveu no seu diário um pequeno parágrafo que será sempre o meu post ideal de sexta-feira – mesmo que nunca mais o cite. «Vou ficar em casa uns quatro ou cinco dias, não para descansar, porque eu não faço nada, mas para não ver nem ouvir ninguém, a não ser o meu criado José. Este mesmo, se cumprir, mandá-lo-ei à Tijuca, a ver se eu lá estou. Já acho mais quem me aborreça do que quem me agrade, e creio que esta proporção não é obra dos outros, é só minha exclusivamente. Velhice esfalfa.» Há só um pormenor: não tenho criado.
SERÁ POLITICAMENTE CORRECTO? Gostei do logotipo do 2:.
OS ALHOS DE VOLTA. Depois da vergonhosa campanha de Portugal no Mundial de 2002, o dr. Madaíl quis romper com o «passado» - do qual ele foi, refira-se, um dos actores principais. Demitiu António Oliveira, afastou membros da equipa directiva e contratou Scolari – depois de ter um compromisso com Manuel José. [Ah, também participou num frente-a-frente com Miguel Sousa Tavares onde lamentou o seu défice gramatical, não se lembram?]. O objectivo, então, era varrer todo o lixo da Praça da Alegria. Nos últimos meses, o dr. Madaíl, talvez aconselhado por alguém inteligente, afastou-se da ribalta. Fez bem. Scolari, entretanto, tem desempenhado o papel que já se esperava dele. Faz bem. Mas eis que o dr. Madaíl, com o «nobre» objectivo de apelar ao fim das «guerras em torno das convocatórias» – que começam e acabam no facto de Vítor Baía não ser convocado –, nos faz recuar um ano, pelo menos. Disse ontem, entre outras coisas, que «temos de dar o benefício da dúvida [a Scolari]» ou «provavelmente, na minha opinião, poderia haver critérios diferentes na convocação de um ou outro jogador, mas temos que respeitar o seleccionador». O dr. Madaíl não aprendeu a lição. Aliás, é velho de mais para aprender. Por momentos, aquele cheiro a alho da mentalidade tuga voltou. Scolari é a única garantia que o cheiro não vai alastrar-se. Por enquanto.
DUELO PREVISTO III. Para o próximo dia 11 está marcado outro encontro. Desta feita, entre Pacheco Pereira e Mário Soares. A crise é mesmo grave à esquerda. O Soares?
DUELO PREVISTO II. A certa altura, Francisco Louçã afirma, a propósito da discussão sobre a política orçamental, que João César das Neves é «amigo da ministra das Finanças.» O economista da Católica respondeu: «não tenho amigos, sou professor de Economia.» Sempre desconfiei. Quem defende que «não há almoços grátis» não pode ter mesmo amigos.
DUELO PREVISTO. Ontem, pela primeira vez, vi o programa Duelos Imprevistos, na SIC Notícias. A escolha do nome do programa não foi feliz. Um confronto entre Francisco Louçã e João César das Neves é tudo menos um «duelo imprevisto».

quinta-feira, setembro 04, 2003

LEMBRAR SETEMBRO. Para trás ficava o cheiro a orégãos, o banho das seis da tarde, os jogos de bola até à meia-noite, a pesca das carpas e dos achigãs, os carrinhos de rolamentos, a pontualidade inglesa do meu avô – também a sua mão dura, a açorda da minha avó, a ceia. É isso que mais recordo – aquelas refrescantes ceias. Setembro era o fim de tudo isto. Tempo de regressar.
HAVIA DÚVIDAS? Dizem os senhores da Universidade de Sterling, na Escócia, que quem sai do trabalho e passa por um bar – ou, claro, por uma cervejaria –, tem mais hipóteses de ser promovido e de ter êxito profissional. Estes senhores sabem do que falam. E provam-no. O seu estudo teve por base 17 mil entrevistas – feitas entre 1958 e 2000. Não é nenhuma brincadeira. No entanto, fica a pergunta: era necessário tanto tempo para concluir o óbvio? O Homem que é Homem do Luis Fernando Verissimo, por exemplo, explica-o em pouco mais de mil caracteres.
AGENDA DE LOUCOS. O que é os matemáticos fazem ao longo do dia? Um professor de Oxford tenta explicar.
FACTOR KING. Só ontem consegui ir ver o filme de Kevin Spacey, Inocente ou CulpadoThe Life of David Gale. Kevin Spacey é um dos meus actores, juntamente com Edward Norton, Philip Seymour Hoffman e Sean Penn. Trata-se de um filme muito bom – sim, e não é pelo «factor Spacey», como lhe chamou o Guerra e Pás. A crítica portuguesa foi demolidora. De muito mau para baixo. Nem mais ou menos, sequer. Passasse no King e eu gostava de ver se estes senhores escreviam o mesmo.
QUEM OUVE SOARES? Mário Soares não se cansa. Ontem, no Centro Cultural de Belém, o ex-presidente lá fez mais um discurso contra a Administração Bush e a situação dos presos de Guantanamo. Participava, deste modo, no 47º Congresso da União Internacional de Advogados. Se o PS pensava testar, mais uma vez, a real capacidade de argumentação de Soares, então o resultado foi desolador. Num auditório com 1429 lugares, apenas 57 congressistas o ouviram, como escreve um jornalista do Diário de Notícias. E ainda há dúvidas se foi até ao fim.
IDA À BOLA II. A provocação deliciosa de ontem do Joel lembrou-me que sou do Benfica. Ainda não o tinha escrito aqui, pelo menos. Ontem também, no seu regresso em força, Pedro Mexia escreve um pequeno texto sobre o assunto. A linhas tantas, pode ler-se: «Ainda aprecio uma boa partida, mas passo bem sem futebol. E ainda sou do Benfica, mas sem qualquer fervor. Mas quando leio as prosas constantes de obcecados antibenfiquistas como Duarte Moral (que aliás estimo pessoalmente) fico com vontade de me tornar um No Name Boy.» O Dicionário do Diabo referia-se concretamente ao texto publicado ontem no Diário de Notícias com o título Já leram o ‘Animal Farm’?. Como já escrevi, sou benfiquista, mas Duarte Moral tem toda a razão. O adiamento do jogo Académica-Benfica para 29 de Outubro é, no mínimo, escandaloso. O Sporting e o clube de Coimbra – que jogaram na primeira jornada – tinham concordado em pedir o adiamento do jogo. A Liga de Clubes recusou esse pedido. É que contrariava os seus regulamentos. Adiar o jogo do Benfica também é contra os mesmos regulamentos – e nem o argumento de testar o renovado Municipal de Coimbra para o Euro 2004 pega. Não pega. Duarte Moral, repito, tem toda a razão no que escreve. Há mais um pormenor: Francisco Cunha Leal, o director-executivo da Liga, é um conhecido benfiquista. E, neste caso, isso parece fazer toda a diferença.

quarta-feira, setembro 03, 2003

IDA À BOLA. No seu mais ressentido comentário futebolístico desde que o conheço (eh, eh, eh…), Joel Neto promete rir-se de mim daqui a quinze dias. Diz ele: «Lâmpios de todo o Mundo: vamo-nos rir à gargalhada daqui a quinze dias.» O link para este blog assim o indica. Percebe-se. Os lagartões ainda não se encontram refeitos da goleada. O Joel, que há pouco tempo «era da Lazio desde pequenino», está angustiado. Só porque ganharam dois jogos, só porque o Tõnito marcou dois golos ao Belenenses – como é que ainda acreditam naquele espanhol, por favor, num espanhol? -, só porque têm um treinador que já treinou o AEK, os lagartões pensavam que a viagem às Antas seria tranquila. Foi hilariante ouvi-los nos dias que antecederam o jogo. Mas não me parece, Joel, que vás rir à gargalhada daqui a duas semanas. É que Moreira não é Ricardo, Luisão não é Beto, Tiago não é Custódio, Geovanni não é Tello e, sobretudo, Sokota não é Lourenço. E só isto já é uma grande vantagem. Num ponto estamos todos de acordo – tripas, lâmpios ou lagartões: a análise que o Joel faz à equipa do Sporting é «limpinha».

P.S. – Eu sei que o comentário era para os «tripas de todo o Mundo»: «E o vosso treinador vai pagar caro ter mandado a merda do preparador-físico à conferência de Imprensa.» Mas concordarás comigo: o Rui Faria, o tal preparador físico, fala muito melhor do que a maioria dos treinadores da Superliga. E isso já é um favor que faz aos adeptos portugueses.

terça-feira, setembro 02, 2003

OLIVENÇA.Tal como deve ter acontecido a muitos outros blogs, o Grupo dos Amigos de Olivença é uma visita constante na minha caixa de correio. Não me queixo. E agradeço a simpatia. Aliás, foi num dos seus últimos e-mails que fiquei a conhecer este facto histórico: Portugal, pela primeira vez, faz parte do relatório anual da CIA sobre países envolvidos em disputas internacionais. Desde Agosto que assim é. Agradecei a Olivença, meus senhores, agradecei.

P.S. - Pode ser que, de uma vez por todas, os norte-americanos – sim, claro que é uma minoria – saibam que Portugal não faz parte da «Ibéria» nem é uma «província espanhola». Mais um motivo para agradecermos a Olivença.
FINALMENTE. Alguns amigos são mesmo assim. Não perdoam. Eu bem tento justificar que não tenho culpa. Que é algo que me escapa totalmente. Mas eles não ouvem. Não ouvem. E lá continuam, dia após dia, a dizer que tenho de emagrecer. Continuo sem perceber. Mas hoje descobri que há quem, no outro lado do Atlântico, me perceba. Finalmente.
DIA BANAL. O melhor post que encontrei sobre o jogo de hoje à noite está aqui. Como eu gostava de ser o autor dessas palavras. Genial, caro A.

segunda-feira, setembro 01, 2003

NÃO RESISTO.

Raglan Road
Patrick Kavanagh

On Raglan Road of an autumn day I saw her first and knew
That her dark hair would weave a snare that I might one day rue
I saw the danger and I passed along the enchanted way
And I said let grief be a fallen leaf at the dawning of the day

On Grafton Street in November we tripped lightly along the ledge
Of a deep ravine where can be seen the worth of passion's play
The Queen of Hearts still making tarts and I not making hay
Oh I loved too much and by such by such is happiness thrown away

I gave her gifts of the mind I gave her the secret signs
That's known to the artists who have known the true Gods of sound and stone
And words and tint without stint, I gave her poems to say
With her own name there and her own dark hair like clouds over fields of May

On a quiet street where old ghosts meet I see her walking now
Away from me so hurriedly my reason must allow
That I had loved not as I should a creature made of clay
When the angel woos the clay he'll lose his wings at the dawn of day
DE SOSLAIO. É uma das imagens mais deliciosas que guardo do metropolitano. Hoje, aconteceu mais uma vez. Um senhor que lê o jornal. À sua volta duas senhoras olham, sorrateiras, para as principais notícias. Sempre de soslaio. Delicioso.
NOTAS. A notícia de destaque desta semana do jornal Expresso é conhecida. Revela que mais de 45% das notas que circulam na zona ribeirinha de Lisboa apresentam vestígios de cocaína. Notas de 5 e 10 euros. Há só um problema em toda a história: é que o jornal não diz, em nenhuma linha, o número de notas recolhidas. Ou seja, qual a amostra utilizada. E isso faz toda a diferença quando se publicam percentagens.
HILARIANTE. A conferência de imprensa de João Loureiro sobre uma pretensa carga policial no estádio do Bessa é, até agora, o episódio mais hilariante deste campeonato. As provas estavam mesmo ali ao seu lado. Duas senhoras cheias de traumatismos e escoriações. A sangrar, quase.
EXPLIQUEM-ME. Sim, porque é que os donos dos rotweiller e raças afins quando passeiam os ditos na rua vão com aquele ar grave e potencialmente agressivo? Hoje, cruzei-me com mais um dessa espécie. Chego a casa e escrevo no meu bloco. A lista aumenta para 367 casos. E só comecei há três meses.

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